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terça-feira, 9 de agosto de 2011

filomena

filomena saudosista
não se continha de saudade
quando chegava o fim da tarde.
Na firma em que trabalhava,
o relógio sempre, pontualmente batia
às cinco e quarenta e quatro.
fechava as canetas de tampa,
cobria os cadernos com pauta,
escovava cinquenta e duas vezes os cabelos,
fechava a bolsa de alças,
e então saía.

todo entardecer era aquela mesma agonia.
uma escoliose invertida,
uma traumatologia d'alma,
que nunca sossegava.

era bem verdade que filomena
sempre fora desse mesmo jeito
triste e melancólico.
desde pequena, quando ainda se magoava
ao contar no pique esconde.
só de ficar ali contando,
já sentia falta, daqueles que iam se esconder.
só de ficar ali, imóvel, partia-lhe o coração,
de também vê-los partir.

filomena era uma mulher de sentimentos.
fortes.
falava-lhe o pai que apego demais,
era sinal de mesquinhez.
mas para filomena, o que realmente valia
eram as emoções que podia sentir.

filomena saudosista, ao final da tarde,
já estava ansiosa, pela volta
no outro dia de manhã.
deixava o salão da contabilidade
muito lentamente, para que a despedida
fosse um pouco menos dolorida.



Um comentário:

julieporto disse...

que saudades de você, boneca!
e que lindo isso!
tb te
hohoho
bjs