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quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

A devolução

Por favor, devolva a intimidade que eu te dei.
Deixe ela sobre a cama e ao sair feche a porta.
Seja breve e não tente mais remendar costuras puídas.
Se cuide de outras maneiras, outros modos e com outros pensamentos.
Tudo passa. E nós também, dessa forma e de certa forma passamos.
Contudo, proponho a criação de uma ode ao recomeço que já se instalou,
e um brinde aos novos ventos que separados sopraremos.
Se quiser, simbolicamente, posso pegar a vela que está na cozinha.
Aquela que usamos na última tempestade que faltou luz, lembra?
Ou você ainda tem medo de soprar velas que não sejam próprias para aniversários?
Ah! Me desculpe! Não temos mais essa intimidade toda de casais que discutem coisas tolas.
Ela já está lá sobre a cama.
Devolvida.
Um tanto gasta e modificada, bem verdade.
Mas ainda minha.
A sua já foi restituída. Não guardo pertences que não me pertençam.
Contudo, sempre foi da minha personalidade, ser assim um pouco invasiva.
Então, se eu te encontrar por aí e tecer certos comentários, observações ou piadas que sejam de foro íntimo, apenas se lembre que eu não mudei.
E não vá pensando em fazer o mesmo, pois você nunca foi dado a intimidades com estranhos.
Sempre ouvi críticas suas por isso.
Ou será que justo agora que não precisa mais, você irá se reconfigurar?
Fique tranquilo, dessa vez decidi  priorizar a razão.
Portanto, ainda que o encontre com nova identidade não ousarei suscitar tais questões ou comentários.
Além do mais, a minha intimidade só se manifesta espontaneamente com estranhos completos.
Mas ainda há uma chance...
Pode ser que daqui a muito tempo, se tudo transcorrer serenamente, se a minha intimidade devolvida se reestabelecer, se de tanto você se repaginar e se reconfigurar sem razão...
Pode ser que você me pareça tão estranho, que a minha intimidade sinta então, uma vontade enorme de ficar bem à vontade em sua companhia.





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